Brasil
terra de plantas raras
Holocheilus-monocephalus, nativa dos campos úmidos do extremo sul do Brasil, chega a altura de 60 cm.
O livro Plantas Raras do Brasil, identifica 2.291 espécies de plantas encontradas exclusivamente no território nacional. O trabalho, fruto de uma parceria entre a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a ONG Conservação Internacional, é resultado de dois anos de pesquisas que reuniram 175 cientistas de 55 instituições brasileiras e internacionais.
Nas pesquisas, os cientistas também identificaram 752 áreas de relevância biológica para a conservação da flora brasileira e verificaram que 50% dessas áreas estão degradadas. Segundo os organizadores da obra, a publicação poderá reacender uma polêmica entre cientistas e o Ministério do Meio Ambiente.
Em uma lista divulgada em setembro do ano passado, o ministério relacionou 472 espécies da flora ameaçadas. No entanto, um consórcio formado por cerca de 300 cientistas afirma que há no Brasil 1.472 espécies ameaçadas. O professor Alessandro Rapini, da UEFS, um dos organizadores da obra, diz que a situação da flora brasileira pode ser “mais grave” do que os números oficiais apontam.
Calliandra-Hygrophila, encontrada em campos rupestres da Serra do Sincorá, na Bahia“O número total de espécies reconhecidas nesse levantamento significa cerca de 4% a 6% de todas as espécies de angiospermas (subdivisão do reino vegetal que compreende as plantas com flores) do país e, dada a área restrita de ocorrência, muitas delas podem ser consideradas ameaçadas de extinção“, comenta Alessandro Rapini.
As áreas-chave para biodiversidade, ou ACBs, são lugares de relevância biológica detectados e delineados a partir da presença de espécies raras (distribuição restrita), endêmicas (exclusivas de uma determinada região) ou ameaçadas de extinção. No escopo da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), as ACBs devem ser os alvos preferenciais dos governos para atividades integradas de conservação, pois há o compromisso global de proteger, até 2010, grande parte dessas áreas contra a degradação.
As áreas-chave para biodiversidade, ou ACBs, são lugares de relevância biológica detectados e delineados a partir da presença de espécies raras (distribuição restrita), endêmicas (exclusivas de uma determinada região) ou ameaçadas de extinção. No escopo da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), as ACBs devem ser os alvos preferenciais dos governos para atividades integradas de conservação, pois há o compromisso global de proteger, até 2010, grande parte dessas áreas contra a degradação.
Barbacenia Fanniae, tem flores cor-de-rosa e pode ser encontrada no estado do Rio de Janeiro.
A Conservação Internacional informa que, das 752 ACBs identificadas a partir da presença de plantas raras, 47% apresentam alto grau de degradação, com mais de 50% de área já alterada por atividade humana. Em contraste, somente 7,8% das ACBs possuem mais de 50% de suas áreas em unidades de conservação ou terras indígenas, indicando lacunas importantes no sistema nacional de áreas protegidas.
O vice-presidente de ciência para América do Sul, José Maria Cardoso da Silva, co-organizador da obra, diz que a situação é preocupante. “A combinação desses dois indicadores nos traz uma mensagem explosiva: se nada for feito rapidamente, estamos produzindo um evento de megaextinção de plantas brasileiras, que pode aniquilar em poucas décadas o produto de milhões de anos de evolução e criar um embaraço diplomático para o Brasil, um dos primeiros signatários da CDB, pois o governo brasileiro se comprometeu a fazer todos os esforços para evitar a perda de espécies no país“.
Paepalanthus Globulifer, encontrada na Serra do Cipó em MG, floresce o ano todo.
O professor Alessandro Rapini, lembra que o que mais preocupa os cientistas no momento são espécies raras que ainda não foram detectadas. “Correm o risco de desaparecer antes mesmo de serem descritas“, afirma. Os organizadores da publicação estimam que o Brasil detenha 15% de toda a flora mundial.
As espécies raras não estão distribuídas de forma homogênea. Os Estados campeões em número de espécies raras são Minas Gerais, com 550, e Bahia, com 484, afirmam os pesquisadores.
Ameaças e desafios – As ameaças à flora brasileira são muitas e ocorrem nas diferentes regiões brasileiras. Vão desde o uso não sustentado de seus componentes, até a retirada total da vegetação para dar lugar à expansão da agricultura mecanizada, de pastagens e de áreas urbanas, passando pela construção de estradas e pressão imobiliária, dentre outros. Atenção para o dilema desenvolvimento x conservação, especialmente crítico no atual contexto do planeta, com a iminência do aquecimento global. “O Brasil, pela riqueza de sua flora e pelo forte contraste cultural entre os habitantes ao longo do território, precisa utilizar estratégias de desenvolvimento que contemplem a melhoria da qualidade de vida de seu povo, com a conservação da nossa biodiversidade. Assim, informações científicas e bem embasadas certamente ajudarão para a proposição de providências concretas por parte do poder público para evitar a extinção das espécies de plantas no Brasil e conservar o patrimônio natural brasileiro, promovendo o uso sustentável dos recursos naturais”
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário